quarta-feira, 26 de agosto de 2015

De onde venho

Moro numa cidade
Onde bares são garagens que não guardam carros;
Onde a aurora se ver da ponte;
Onde a justiça é rainha e o galo é rei;

Moro numa cidade
Onde os prédios derramam suas lágrimas de concreto, molhando quem passa no seu coração;
Onde as frutas e os temperos batizam os bairros;
Onde a saudade e a coragem têm endereço certo;

Moro numa cidade
Onde o alto pode ser menor que o morro;
Onde o brigadeiro não tem festa, mas tem farda;
Onde o sul e o norte nos levam e nos trazem mostrando seus fins;

Moro numa cidade
Onde as pontes têm seus pontos;
Onde as estrelas formam o chão;
Onde o antigo não é velho;

Moro numa cidade que nem é uma, são três ou mais.




 Luana Melo




sábado, 8 de agosto de 2015

Estado de luto


É sempre muito difícil falar a respeito da morte. Esse parece ser um assunto que ninguém gosta de ‘tocar’, pelo menos não quando a morte é de algum ente querido.
Primeiro nos ensinam que ‘a morte não existe’, as princesas dos filmes nunca morem! Elas dormem, desmaiam, fazem qualquer coisa, mas depois... Sempre voltam à vida (de preferência com um beijo encantando!).
Mais tarde (com as novelas) nos ensinam que só os ‘vilões’ morrem.
E depois (depois se você tiver a ‘sorte’ que isso só aconteça quando você está supostamente ‘preparado’) a vida vem e lhe ensina que os bons também se vão. Que as pessoas que tanto amamos não são eternas. Que a morte existe e está tão perto de nós quanto à vida.

Uma pessoa que amo muito e que já me deixou sempre dizia uma grande verdade:

“Pra morrer, só basta estar vivo.”
...

Bem, mas como o título do texto sugere, eu vou falar da morte (propriamente dita) e sim do luto causado por ela nas pessoas que permanecem por aqui.
Mas afinal, o que é o luto? Ao procurar definições na internet, encontrei uma no Aurélio Online que me pareceu bem clássica:

Período após a morte de alguém em que é costume usar esse traje ou limitar determinados comportamentos.”

Ok, mas...

Penso que se hoje alguém fosse fazer uma definição “moderna” do luto seria algo mais ou menos assim:

Ato de trocar a foto nas redes sociais por alguma contendo a palavra luto ou uma fitinha preta (ou os dois ) e/ou publicar na a palavra LUTO, seja em publicação simples ou utilizando a hashtag (#luto), após a morte de alguém.

Aviso que essa não é uma crítica a quem expressa seu luto dessa forma, afinal, vivemos em um país ‘livre’ e reconheço que no dias atuais somos quase que obrigadxs a postar nossas alegrias e tristezas nas redes sociais. Eu diria que existe uma força ‘invisível’ que nos convida a expor nossas vidas, cada vez mais e mais.
Apenas acho engraçado, pois parece que colocando lá (redes sociais), a mensagem vai chegar ao conhecimento do destinatário. Não importa se esse é umx ex-namoradx, umx inimigx, Deus ou alguém que já se foi, ela vai chegar.

Pois bem, eu particularmente não concordo com nenhuma das definições de luto acima. Não penso que para estar de luto preciso me comportar ou me vestir de forma diferente e muito menos acho que devo gritar aos quatro ventos a minha dor.
Para mim, estar de luto não é um status, uma publicação e sim um estado, uma situação, um sentimento.

Não é porque eu não mudo a foto na rede social ou porque não uso preto em um velório que quer dizer que sofro menos.

Meu luto está no choro calado antes de dormir, nos olhos marejados ao lembrar que não vou ter mais aquele abraço, no nó na garganta por não ouvir mais aquela voz me chamar, na sensação de impotência por não ter conseguido impedir...
Meu luto está na recordação, na gratidão, no carinho, no amor e na eterna saudade de quem não vai voltar.




Luana Melo

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Reconciliação (1)

Então...


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(Silêncio)

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Desculpa.





Luana Melo